Modulação
Alteração de um parâmetro sonoro (volume, frequência, fase, etc.) por efeito de um agente cíclico.
Variantes mais conhecidas: trémolo, vibrato, síntese FM
Categoria: elementar
Aqui temos uma questão (a modulação) que não se encontra prevista no manual de efeitos sonoros de Augoyard e que altera de modo radical a nossa abordagem a uma série de efeitos: o trémolo, o vibrato e vários outros efeitos podem ser deslocados do bloco paradigmático onde se encontravam inicialmente (a dinâmica) e entrarem num bloco mais vasto: a modulação. Na verdade, enquanto recursos instrumentais, podem fazer parte de qualquer um dos dois paradigmas: modulação ou dinâmica.
Para nos desenvencilharmos deste dilema, estabeleçamos a seguinte regra: se o recurso age sobre sons individualmente considerados (por exemplo, modulação de frequência, de intensidade ou de fase de um som), vamos arrumá-lo do lado da modulação (caso do tremolo, do vibrato, do ADSR); se o agente actua sobre uma sequência sonora (fading, crescendo, diminuendo, fusão, etc.) vamos arrumá-lo do lado da dinâmica.
De modo muito sintético e simplificado, digamos que a modulação1 consiste na alteração de uma ou várias características internas de um som, por efeito de um agente cíclico. Este agente pode fazer parte do próprio sistema de construção sonora em jogo, como sucede na síntese modulada2, mas também pode ser externo.
No domínio da natureza, apenas alguns parâmetros acústicos elementares são passíveis de modificação cíclica. Por exemplo, as rabanadas de vento podem alterar a nossa percepção do volume de um som vindo de longe, fazendo parecer que ele «flutua», que «vai e vem», ou que alguém está a manipular o volume de som do aparelho donde ele provém
No domínio electrónico e digital, todos os parâmetros de um som são moduláveis. As próprias variações melódicas e rítmicas são moduláveis, segundo lógicas que escapam à tradicional variação contrapuntística. Nas últimas duas décadas (2010-2020) uma nova geração de programas de síntese e composição pôs ao alcance de toda a gente processos simples de modulação que anteriormente só eram acessíveis através de máquinas extremamente complexas e dispendiosas. A vastidão e profundidade das possibilidades de modulação é tal, que grande parte da música electrónica/digital passou a ser desenvolvida precisamente à volta deste artifício – no lugar das variações melódicas e instrumentais características da música clássica, encontramos novas formas de construção sonora assentes na modulação dos mais variados vectores de construção sonora.
Esta nova tendência vai ainda mais longe: além da modulação determinística, conhecida há décadas, é agora possível aplicar modulações aleatórias, donde resultam construções sonoras menos «mecânicas», mais «humanizadas». De facto, uma das coisas que nos permite distinguir intuitivamente uma criação «mecânica» de uma criação «humanizada» é a ausência ou a presença de variações aleatórias – uma articulação matematicamente impecável, sem «erros» de tempo, ritmo e frequência, remete para a execução mecânica; pelo contrário, pequenas falhas nos tempos e na afinação, variações imprevisíveis no ritmo, remetem para a intervenção da mão humana. O erro, a imprevisibilidade e a «falsidade» são uma marca registada da inteligência humana (e portanto da criação sonora); e são o contrário do que sucedia até há muito pouco tempo com a chamada inteligência artificial (IA, ou AI em inglês), que não admitia falhas, erros e variações aleatórias.
Exemplo de variações obtidas por modulação (em construção)
No limite, poderíamos postular a hipótese de certos comportamentos humanos poderem ser «modulados» por factores externos.3 Exemplos típicos são o efeito de contágio do choro, do riso, da violência ou da sua negação, dos comportamentos disfuncionais, etc. Este «contágio» do comportamento individual por fenómenos externos, ao levar uma pessoa a assumir comportamentos que normalmente não adoptaria, semelha o fenómeno da modulação. Desconheço, porém, estudos de campo neste sentido (isto é, que comparem a modulação comportamental com a modulação sonora), razão pela qual não abro aqui uma secção de psicologia da percepção e do comportamentos dedicada ao tema, limitando-me a colocar essa hipótese de trabalho.
Vibrato (vibrante)
Os instrumentistas frequentemente fazem variar muito rapidamente e de forma cíclica a frequência (pitch) de uma nota prolongada. O uso destas microvariações é de regra nas notas longas dos instrumentos de cordas e de sopro, bem como em certos estilos de vocalização, para quebrar a monotonia das notas longas.
Exemplo de modulação de frequência (em construção)
Tremolo (trémulo)
Neste caso o instrumentista faz variar muito rapidamente, de forma cíclica, o volume de uma nota prolongada. Encontramos este estilo interpretativo nas vocalizações, de forma a conferir-lhes vivacidade e torná-las menos monótonas. É bem conhecida a expressão «voz trémula», que se supõe exprimir (ou ser modulada por) uma emoção.
exemplo de modulação de intensidade