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repertório dos paradigmas de som

Compressão, expansão e limitação

Este conjunto de efeitos é de natureza electroacústica, não existe na natureza. Todas as suas variantes têm em comum o facto de alterarem a dinâmica da sequência sonora: nuns casos aumentam-na, noutros reduzem-na.

Compressão

O compressor é um instrumento que analisa o sinal sonoro, detecta os picos de som que excedem um determinado limiar escolhido pelo operador e depois «aplana-os» – é como um buldozer a terraplenar uma zona acidentada, reduzindo-a a uma planície mais ou menos uniforme.

Se o operador assim desejar, a operação seguinte do compressor consiste em subir o nível geral da gravação. O resultado é uma perda de dinâmica (deixa de haver altos e baixos tão pronunciados) e um ganho do nível geral de intensidade de toda a sequência.

Limitação

A compressão estabelece um nível de intensidade máxima teórico; na prática, porém, alguns dos picos de som irão exceder o nível máximo previsto, ainda que apenas durante centésimos ou milésimos de segundo. O limitador, pelo contrário, estabelece um limite absoluto, acima do qual nenhum pico de som conseguirá passar – os picos são radicalmente esmagados, com risco de distorção em certos casos.

O limitador tem a vantagem de criar um head room (isto é, uma «folga» em relação aos limites máximos de volume impostos pelos aparelhos em uso) que permite aplicar uma subida geral de intensidade a toda a sequência sonora, por igual. Se equipararmos o som que estamos a trabalhar a uma mesa virada de pernas para o ar, sendo as pernas o equivalente a picos de som, e se quisermos enfiar a mesa dentro de um carro, pode acontecer que a altura interna do carro não comporte a mesa. O tejadilho do carro é o equivalente ao tecto máximo de volume que a nossa aparelhagem sonora admite. No caso da mesa que não cabe no carro, a solução seria cortar-lhe as pernas. No caso do som, a solução consiste em achatar-lhe os picos sonoros. Ora, se cortarmos esses picos mais do que o estritamente necessário para o som «caber» na aparelhagem, sobra-nos espaço (head room), e nesse caso podemos subir o som na sua totalidade, tornando assim audíveis sons muito discretos que já lá estavam, mas eram imperceptíveis. Ou seja, achatando drasticamente os picos de som, podemos trazer o conjunto da sequência sonora mais para cima.

No entanto, o uso do limitador implica o risco de afectar diversas qualidades da sequência sonora; ao diminuir a quantidade de «altos e baixos», reduz drasticamente a dinâmica da sequência, dando-lhe muitas vezes um carácter bastante diferente do som original. [1]

Expansão

O expansor faz o trabalho inverso do compressor: aumenta a dinâmica da sequência sonora. Os picos de som são puxados «para cima» e os pianíssimos são puxados «para baixo». O resultado é um aumento artificial da dinâmica volumétrica.

Expressões mediáticas

A compressão é muito usada em rádio, televisão, palco, etc., para garantir a inteligibilidade de todo o discurso falado e evitar vários problemas técnicos relacionados com a emissão hertziana. Quando usado com parcimónia, torna mais inteligíveis as secções muito ténues da sequência (por exemplo, sílabas ou frases mal articuladas), aliviando assim uma parte importante do esforço perceptivo do ouvinte e facilitando a compreensão semântica do texto.

Quando dois actores em diálogo num filme têm dinâmicas sonoras muito diferentes, o conjunto das duas vozes pode soar desequilibrado. Nestes casos, o uso de compressores e expansores, juntamente com outros recursos, pode ajudar a equilibrar a sequência.

No entanto, quando a compressão é aplicada de forma exagerada, anula completamente a dinâmica de uma gravação; o som fica tão «aplanado», que é depois possível aumentar enormemente o seu volume em bloco. Este efeito foi sucessivamente exagerado pelas editoras e emissoras, no que viria a ser designado por «guerras de volume» (loudness war), particularmente vivas nos anúncios comerciais de rádio e televisão – o anúncio que conseguisse gritar mais alto obrigaria o ouvinte a baixar um pouco o volume do seu receptor, pondo fora de combate a concorrência publicitária que viesse a seguir. Esta guerra gerou muitos problemas auditivos em milhões de pessoas em todo o mundo e teve resposta no CALM Act e outras normas semelhantes que vieram regular o nível de pressão acústica média no cinema, na rádio e na televisão (nem sempre cumpridas, diga-se de passagem).

Por outro lado, o uso exagerado da compressão criou durante alguns anos um certo estilo musical baseado na combinação de potência máxima com uma total falta de dinâmica.


Outros efeitos de tipo dinâmico:

Rui Viana Pereira, 2021 ► última revisão: 04-08-2024
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