Espaço anecóico ou campo aberto
O espaço anecóico é aquele onde não existe reverberação ou eco. Também chamado campo aberto ou, em francês, matité. No meu repertório de paradigmas foi integrado na ficha sobre reverberação.
O efeito anecóico simula uma situação sem espaço físico ou um espaço físico de dimensões infinitas.
Este efeito só pode ser obtido em câmaras especiais, cujas superfícies absorvem toda a quantidade de energia emitida, de modo a não reflectirem qualquer som.
A câmara anecóica produz um efeito mais pronunciado do que aquele que ocorre quando nos encontramos numa planura vasta – na ausência de paredes, árvores ou quaisquer outros obstáculos, o som da nossa voz é projectado até ao infinito, sem retorno; a única coisa que permite que ouçamos a nossa própria voz é o chão. Numa câmara anecóica, porém, mesmo o chão é absorvente, pelo que não obtemos retorno dos sons que produzimos. John Cage, depois de fazer a experiência de passar algum tempo dentro de uma câmara anecóica, disse que era enlouquecedor não obter o retorno da sua própria voz e que não tencionava repetir a experiência. Também já houve quem dissesse que é o único lugar do mundo onde se ouve a morte …
Embora disso não tenhamos consciência, desde que nascemos ouvimos o retorno de todos os sons que produzimos, reflectidos nas edificações, no solo, nas árvores, etc. O facto de sabermos que qualquer som produzido por nós, a nós retorna, está profundamente embebido nos nossos processos mentais.
Graças aos modernos processadores digitais de som, é possível extrair grande parte da reverberação de uma gravação, simulando assim um cenário em campo aberto. Isto provoca no ouvinte a percepção de que a origem do som (por exemplo, uma voz) se encontra fora de qualquer espaço físico denso ou encostada ao nosso ouvido, sem qualquer espaço de permeio.
Expressões mediáticas
Nos últimos anos pegou a moda no cinema comercial de fazer gravações de voz tendencialmente anecóicas. O resultado é quase sempre desagradável, sobretudo porque as vozes, seja qual for o cenário, seja qual for a abertura de campo, a distância entre o personagem e a câmara, a qualidade física do cenário, soa-nos sempre, do princípio ao fim do filme, como se estivessem a falar ao nosso ouvido. Isto cria um paradoxo, uma disrupção espacial, porque não existe correspondência entre o som e a cena. No entanto, o público parece ter-se habituado a aceitar este contra-senso.
O uso de diálogos quase-anecóicos deve-se, quanto a mim, a uma tendência muito comum: quando as inovações tecnológicas permitem fazer coisas extraordinárias (neste caso, anular o espaço físico), surge a tentação de aplicar a nova tecnologia, mesmo quando ela não vem a propósito. É, digamos assim, uma variante do novo-riquismo.
Inversamente, encontramos outro contra-senso nos filmes que, pretendendo representar a voz de deus ou de outras entidades que supostamente vivem no espaço interstelar, as enchem de reverberação e ecos. Ora a reverberação e o eco são típicos dos espaços densos, fechados, e não dos espaços etéreos, e o nosso ouvido sabe isso intuitivamente.
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